segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A DESGRAÇA DA GRAÇA.


Todos os dias nossas TV’s são “invadidas” por programas religiosos de toda espécies. Neles tem abundado personagens hilários, caricaturas mórbidas, esquizofrênicos, paranoicos, charlatões. São pseudos pastores, missionários, bispos, apóstolos e patriarcas que exploram as tristes almas moribundas, estes tais, são aproveitadores inescrupulosos, sádicos e sem misericórdia.
Usam a linguagem religiosa, com seus chavões evangélicos parecendo verdadeiros defensores da ortodoxia cristã. Não se enganem eles são lobos sedentos de por carne nova. São mestres dos disfarces, são Houdini’s [1] (mestres do ilusionismo), são pedras submersas, são nuvens negras que ofuscam o sol do entendimento, obscurecendo a sensatez.
Estas pessoas subvertem a graça de Deus em desgraça. Pregam o que não vivem, ensinam receitas miraculosas que normalmente envolvem algum ato de fé, como dar “a oferta da viúva”, ou “doações de Barnabé”.  
Eles tratam das “economias do reino de Deus”, mas despendem de mãos vazias os necessitados. Eles falam sobre amor, mas conclamam os fiéis a provarem este amor com doações.
Esta inversão de valores religiosos marca tristemente a desgraça da graça. Quando uso a expressão “desgraça da graça”, refiro-me aos discursos e práticas vazias, mentirosas, malignas destes embusteiros que se autodenominam “líderes religiosos” que em nome da verdadeira graça solapam a fé e as usam como fonte de lucros. Dietrich Bonhoeffer [2], teólogo alemão ao escrever o livro “discipulado” já nos alertava sobre a banalização da graça de Deus, tais como fazem alguns destes apresentadores.
Tudo isso nos mostra que tais líderes não experimentaram o novo nascimento, a verdadeira conversão ao Deus vivo. Não queremos dizer que todos os líderes do movimento evangélico sejam inescrupulosos, mentirosos e aproveitadores, pois acredito que ainda existam “outros que não se encurvaram diante de Mamom”. São estes os verdadeiros enviados, muitos dos quais talvez não possuam credenciais, títulos ou mesmo igrejas, mas anunciam o poder da graça regeneradora. São anônimos que obtiveram o testemunho de haver agradado a Deus.
Este grito de protesto é um alerta as pessoas para que não se deixem enredar com falsas premissas da fé e discursos carregados de emoção que segam a lucidez. Pois está escrito:
“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” Rm. 6:1-2 – ARA.


[1] Harry Houdini, nome artístico de Ehrich Weiss foi um dos mais famosos escapistas e ilusionistas da História. Fonte: Wikipédia, A Enciclopédia Livre, 2013.
[2] Dietrich Bonhoeffer foi um teólogo, pastor luterano, membro da resistência alemã antinazista e membro fundador da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista. Fonte: Wikipédia, A Enciclopédia Livre, 2013.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A DESCRENÇA DA FÉ.



Na Idade Média os países da Europa passavam por transformações ideológicas, políticas, sociais que acabaram por influenciar a vida religiosa. O poder estava nas mãos de uns poucos “bem nascidos”, cerceados pela Igreja, enquanto que, a massa populacional era explorada. Quando se falava em nome de Deus, pensava-se na Igreja como sua representante legal.
A Igreja marchava nesse processo evangelizador de manifestar e assegurar “o reino de Deus” aqui na terra. Essa expressão passou a ser sinônimo de “reino da Igreja”. Partes dos monarcas eram fantoches a serviço “do reino de Deus”. Asseguravam a ordem social e econômica enquanto, a propagadora da mensagem celeste “acalentava seus fiéis com mensagens de segurança”. Eles diziam: - “Contribuam! E seus parentes amados terão uma feliz estadia nas cortes celestiais. Ajudem-nos construir catedrais e não enfrentarão os tormentos do purgatório”.
Em nome da fé mantiveram seus fiéis cativos, exploraram a boa fé dos incautos e focalizaram seus esforços no sentido de “cristianizar” o mundo.
Cansados deste cristianismo déspota, mundano e sedento por poder, certos indivíduos romperiam com “os laços fraternos da Mãe dos fiéis” - A Igreja. Estas pessoas dariam início ao que conhecemos como Reforma protestante. Eles mudariam não apenas o cenário religioso da Europa, mas do mundo. Tudo isso só foi possível graças à descrença da fé.
Eles enfrentaram concílios, dietas, inquisidores, fogueiras, tudo porque a institucionalização da fé nos moldes deste cristianismo sem Cristo, desta fé sem esperança, deste evangelho sem necessidade de arrependimento. Era o clamor por mudanças, era o suspirar por uma igreja mais humanizada, e não mundana.
            Após séculos nos deparamos com a reprise da história.  Não mais uma Igreja católica romana, porém, uma igreja protestante que segue em marcha vitoriosa, crescente e portentosa. Por ironia do destino, aqueles que mudaram o mundo, que transformaram a história, agora tendem a repetir a lúgubre marcha fúnebre da igreja na Idade Média.
            São “Papas” nas igrejas, são oradores ávidos por poder em seus púlpitos, são mentes a serviço dos desprazeres. Novamente acalentados pela inanição do povo, pela imaturidade de certos líderes leigos, pelas conveniências pessoais. Há entre os evangélicos/protestantes certo otimismo motivado pelas recentes pesquisas do IBGE, que revelam crescimento numérico. Infelizmente, tais pesquisas não revelam certas verdades.
Estes números expressam quantidades e não a qualidade de vida espiritual deste povo. As condições socioeconômicas e políticas dos brasileiros favorecem o crescimento do evangelicalismo e parte da teologia da prosperidade que declara: “Quando mais você oferta a Deus, mais bênção ele derrama sobre você.” Enquanto catedrais são construídas em nome de Deus para ostentar o orgulho pessoal de determinados líderes que deveriam ser guias e não lobos ávidos pelas economias de incautos e despercebidos, centenas e milhares de pessoas continuam sedentas pela mensagem de Deus.
No entanto, este Deus que anelam é o Deus da graça redentora, do amor verdadeiro, Abençoador das almas moribundas e Justiça dos aflitos! Faz-se necessário soerguer vozes impolutas, audazes e cheias de misericórdia. É preciso de novas atitudes, de novas ações, sem, no entanto, esquecer-se da antiga mensagem: Deus é amor!